03/07/2025

✰ os medos (e a coragem) da E.


"O medo estava em todas as minhas células pois percebi que havia muita coisa a correr mal na minha vida e eu tinha de controlar todos os possíveis cenários. Morrer parecia um necessário descanso mas não tinha esse direito, havia alguém que eu nunca poderia magoar, desaparecendo. Sou o anjo dessa pessoa, preferi viver com medo. Já me senti com a pele quente e colada a outro e depois fui sendo abandonada, gozada até. Ficar sozinha sem nenhum abraço, conhecer-me só em mim e comigo deu medo mas agora já não tenho esse medo. Já inventei medos, à noite, que não eram reais. Já tive medo de não conseguir, ainda tenho medo de não conseguir. Já não acolho em mim sem pensar se fico drenada, tenho medo de viver para cuidar de outro mas também tenho medo das consequências da sólida solidão. Tenho medo de não ser funcional e expedita e não responder a demandas necessárias para sobreviver. Tenho medo da artificialidade que se impõe, aterroriza-me porque amo fogueiras e flores silvestres. Tenho medo de perder os direitos democráticos. Tenho medo de um dia não me mobilizar bem e querer fazer coisas. Tenho medo de um mundo sem nenhum lugar intacto." (E.)